Copo de 3: janeiro 2010

28 janeiro 2010

TILENUS CRIANZA 2004

A casta em questão é a Mencía, a mais nobre da denominação Bierzo (Espanha), uma casta associada ao Camino de Santiago e aos seus "pelegrins". Na Galiza espalha-se pela região de Valdeorras (Orense) , Ribera Sacra, e estende-se até à província de León onde ocupa 2/3 do vinhedo da Denominação de Origem El Bierzo. Dá vinhos de tonalidade púrpura, de aroma intenso de delicado, digamos vinhos de nariz elegante com frutos vermelhos e com bom equilíbrio entre álcool/acidez, boa evolução em garrafa.
Para os mais distraídos esta é a mesma casta que no Dão se chama Jaen, onde curiosamente é raramente vista engarrafada a solo, apesar de ser uma das mais plantadas no concelho de Mangualde e também no concelho de Gouveia, sendo que neste último atinge uma percentagem próxima dos 90% de todas as castas tintas cultivadas. De maturação precoce e de generosa produção, torna-se sensível a zonas demasiado húmidas e férteis. Os vinhos enquanto novos, arredondam muito depressa, e diz-se que para envelhecer precisam da pujança da Touriga Nacional e da acidez da Alfrocheiro Preto, isto claro está se quisermos ter vinhos com vida longa.
O que será que se entende por vida longa ? Será que falamos de quantos anos... 5, 10, 15, 20 anos ? Recentemente tive oportunidade de beber um Tilenus Pagos de Posada 2001 e não lhe notei falta nem de pujança ou mesmo de acidez, encontrei sim um vinho que contraria simplesmente aquilo que por cá se vai dizendo. Ou só vamos ligar à Jaen quando estivermos todos saturados de Touriga Nacional ? Não se faz melhor porque não se pode ou porque não se sabe ? Felizmente há em Portugal alguns irreverentes que tentam contrariar tudo isto e tentam produzir no Dão, bons exemplares de Jaen, os quais vão ter destaque em breve no Copo de 3. Por agora coloco em prova um fiel exemplar da casta Mencía, das Bodegas Estefania, proveniente do município de Villafranca del Bierzo, vinhas com idades compreendidas entre os 60-80 anos, situadas entre os 600 - 700 metros de altitude. Foi com esta marca e com "este" crianza, que tive o primeiro contacto com a casta Mencía, foi este o responsável por querer conhecer mais vinhos, mais adegas da região, enfim, direi que foi um entrar com o pé direito e ainda bem que assim foi.

TILENUS CRIANZA 2004
Castas: 100% Mencía - Estágio: 12 meses barricas carvalho francês - 13,5% Vol.

Tonalidade granada escuro de concentração média/alta.

Nariz com aroma de boa intensidade, baunilha e fruta vermelha bem delineada e madura (groselha, framboesa) apresentado um ligeiro toque de fruta confitada em harmonia com aroma floral (lembra violetas e não é Touriga Nacional). A barrica mostra-se fina e muito bem integrada, combinando muito bem com um lado mais fresco que se faz sentir ao mesmo tempo que em segundo plano surgem aromas mais mornos como o couro, cacau, cravinho e toque fumado no final.

Boca com todos os seus atributos bem arrumados, direi bem estruturada, sabe a fruta vermelha bem madura acompanhada por leve apontamento vegetal. É um vinho que se mostra arredondado, macio, com a barrica em plena harmonia, o vinho mostra frescura, boa espacialidade e elegância. No fundo dá sinais que aguenta mais uns tempinho em garrafa, embora a prova que dá seja bastante satisfatória neste momento.

É daqueles vinhos que se deve tentar conhecer/beber, está muito bem feito, apelativo e capaz de agradar a um leque bem alargado de consumidores. Um vinho que gosta de comida, muito vocacionado para a mesa, para a chamada cozinha de tacho. Com um preço que ronda os 14€, é uma aposta mais que ganha para todos aqueles que pretendem conhecer um dos bons exemplares de Mencía sem ter de gastar muito €€€, ainda com a mais valia de que vai refinar um pouco mais em garrafa. 16 - 90 pts

27 janeiro 2010

Clan Charco Las Animas Rosado 2008

Em seguida falarei de um vinho rosado, vindo das terras de Castilla e León (Espanha), mais propriamente da zona dos Oteros (Gusendos e Grajal de Campos). Elaborado com uma casta autóctone dessa mesma zona, ocupa hoje em dia uma área aproximada dos 3.000 ha de vinhedo em toda a região. Produzido pelas Bodegas Estefania (Tilenus), este Charco Las Animas Rosado 2008 provem de vinhas situadas a 900 metros de altitude com 50% das uvas com idade compreendida entre os 70-90 anos e os outros 50% de vinha com 11 anos, durante a fermentação o vinho teve uma breve passagem por carvalho francês, terminando em inox, com uma produção final de 1300 garrafas.
A aposta firme e convicta nas variedades autóctones de cada zona, é cada vez mais frequente em Espanha. Basta dar um pouco de atenção para reparar que por detrás de um mar Tempranillo moram vinhos bastante interessantes, cheios de personalidade e feitos com uvas que praticamente passam desconhecidas para a grande parte dos consumidores. Já aqui tinha dado o exemplo de uma jovem adega que aposta fortemente na casta Mencia para elaborar os seus vinhos, os resultados desse esforço têm vindo a ser recompensados com o merecido reconhecimento por parte da crítica espanhola e estrangeira desde a primeira colheita. Nota-se portanto que há uma preocupação por parte de quem produz e de quem começa a produzir, apostar na qualidade mas ao mesmo tempo na diferença com as uvas "nativas" de cada região, mesmo que ajudadas em menores percentagens por outras castas.
Em Portugal cada vez mais andamos a ser abafados sempre pelas mesmas castas, as ditas cujas quase que se tornaram imigrantes e os vinhos vão perdendo a identidade a bem do negócio, trocando-se a paixão pelo negócio puro e duro, importa vender seja de que maneira for, mesmo que isso implique recorrer aos facilitismos... é quase que fazer pintura por números, criatividade é quase nula, mudando-se apenas as cores sem que a coisa fique a destoar muito. Entendendo que se pode e deve dar lugar ao vinho de lote, mas são poucos os produtores em Portugal que apostam fortemente numa vinificação a solo das castas "nativas" de cada região, embora o regozijo seja enorme quando se diz à boca cheia que temos um património muito vasto. Porque razão não temos mais vinhos 100% de Jaen, Tinta Grossa, Tinta Amarela, Tinto Cão, Vital... Ou poderei perguntar porque razão as castas ditas "desconhecidas" lá fora resultam e cá dentro nunca se pode falar em varietal sem que alguém venha a correr criticar e dizer que falta sempre qualquer coisa, acidez, volume, complexidade, intensidade... ?
O vinho que se segue foi sem dúvida alguma um dos Rosados/Rosés que mais prazer me deu no ano de 2009, a produção é reduzida mas a qualidade, a polivalência que mostrou para a mesa e acima de tudo a forma diferente e divertida como se mostra na prova que dá, são motivos muito fortes para não se ficar indiferente a um vinho como este.

Clan Charco Las Animas Rosado 2008
Castas: 100% Prieto Picudo - Estágio: Fermentação com passagem por carvalho francês e inox - 13% Vol.

Tonalidade granada vivo a lembrar a romã.

Nariz de bela intensidade, ou digamos a cheirar muito e bem, com aromas que variam entre o vegetal fresco (rama de tomate, esteva molhada) com fruta vermelha (groselha, framboesa, cereja) e alguma tangerina bem madura e limpa, com algumas flores pelo meio. Ramalhete a mostrar-se sério e bem composto, frescura e a desenvolver um ligeiro toque fumado devido à passagem por madeira, que não chega nem de perto nem de longe a dar sinais durante a prova do vinho. Dá vontade de cheirar e de beber.

Boca com entrada a mostrar-se fresco, seco e de enorme polivalência à mesa. Sabe a cereja, framboesa e groselha madura, com um leve apontamento vegetal pelo meio, como se tivéssemos trincado ao mesmo tempo a rama da framboesa. Envolvente, macio, tem identidade marcada e ao mesmo tempo tem garra, apesar da ligeira goma de fruta vermelha, sabe a vinho e não a doce, que o rosé não é para saber a doce, com o final de boca a mostrar uma bela persistência.

É um vinho que dá muito prazer beber, é vinho para a mesa, para beber com os amigos. Foi assim que este vinho foi partilhado e bebido, com os amigos, todos gostaram, elogiaram, pedem onde se arranja mais para ter em casa. Este está entre os melhores do lado de lá, é claramente diferente, tem identidade, foge do receituário a que estamos acostumados, é como em vez de xarope para a tosse passarmos a beber uma tisana ou um chá. Acompanha saladas, pizzas, pastas, as mais variadas entradas, marisco, e até serve para ser bebido sozinho a pensar que os cerca de 8€ que custa, a produção ronda as 1300 garrafas, envergonharem tanto rosé "mal" feito em Portugal. 16,5 - 91 pts

Bodegas Estefanía

É com enorme prazer que retorno a terras de Espanha e mais concretamente à D.O. Bierzo, onde reina a casta Mencia, introduzida pelos romanos faz mais de 2000 anos (a famosa Jaen no Dão). Curiosamente em Portugal são poucos os produtores que "ligam" a esta casta em extreme, inventa-se sempre a desculpa de que ou precisa de Touriga Nacional ou precisa de mais uma pitada de Alfrocheiro para... para nada. Basta provar os vinhos do lado de lá para se entender que a casta, quando bem trabalhada a solo (se calhar é isto que por cá não se sabe fazer) dá resultados de altíssima qualidade. E não se preocupem com o envelhecimento que é coisa que sabe fazer e muito bem.

Neste caso falo de um produtor que tenho tido o prazer de acompanhar desde que surgiu no mercado, e cuja empatia com os seus vinhos foi imediata. As Bodegas Estefania surgiram em 1999 quando os irmãos Frías realizaram o sonho de produzir vinhos mono varietais de alta qualidade.

A D.O. de Bierzo fica situada a Noroeste da Península Ibérica, num vale rodeado pelas montanhas que separam León, Galiza e Astúrias, contando na totalidade com 4500ha de vinhas velhas, com poucas parcelas a ultrapassarem os 2ha. As Bodegas Estefanía contam aqui com cerca de 40ha de vinhas, quase centenária, em Valtuille de Arriba e Pieros, situadas em ladeiras de grande desnível que apenas permitem a vindima manual.
Para além da produção de vinho D.O. Bierzo, consta também da produção vinho Ecológico, proveniente das vinhas situadas em Castillo de Úlver (nome do vinho), em Arganza, com uma altitude que varia entre os 550 e os 650 metros de altitude. Aqui a idade da vinha ronda os 15 anos, variando entre a Tempranillo e a Mencía (fruto de uma recente reconversão das vinhas de Tempranillo). Por outro lado e situadas a 836 metros de altitude, ficam as vinhas de Prieto Picudo, com idade a variar entre os 80-100 anos, e cujos vinhos resultantes são Vino de la Tierra de Castilla y León com marca de nome Clan.

É sem dúvida alguma, uma zona que merece ser conhecida pelos magníficos vinhos que tem vindo a produzir nos últimos anos, alguns considerados como dos melhores de Espanha e capazes de nobre evolução durante largos anos em garrafa. Neste caso temos um produtor que desde cedo se afirmou como um dos portos seguros no que a vinhos do Bierzo se trata, com a enologia a cargo do enólogo Raúl Perez.
A marca é Tilenus, e os vinhos são classificado como Joven, um vinho que assenta na frescura da fruta aliado às características muito próprias do terroir onde nasceu. O Roble tem uma breve passagem por madeira, a suficiente para lhe conferir alguma complexidade e amainar a força da fruta, com um pouco mais de harmonia surge o Crianza que se afirma como o estandarte deste produtor, um vinho delicado que conjuga de forma muito elegante barrica com a frescura da fruta. Por fim o Pagos de Posada, um belíssimo vinho, de enorme finesse, rico bouquet e onde parece que nada falha tal o prazer que nos transmite durante a sua prova, já o Piero... vinho de guarda por excelência, são poucas as palavras para o descrever tal como foram muito poucas as vezes que o tive no copo.

Provados mais recentemente (notas de prova colocadas brevemente):

Clan Charco Las Animas Rosado 2008 16,5 - 91 pts
Tilenus Roble 2006
Tilenus Crianza 2004

25 janeiro 2010

Niepoort Garrafeira 1931

Situadas na Rua Serpa Pinto, Vila Nova de Gaia, as caves da Niepoort servem de ginásio a todos os vinhos do porto deste produtor, é ali que os vinhos se colocam em forma até estarem prontos a sair para o mercado. As máquinas à disposição naquele espaço variam desde as madeiras, garrafas ou os peculiares demijons, sob batuta atenta do Masterblender, Sr. José Nogueira, cuja ligação familiar à Niepoort remonta já ao seu pai, e estendeu-se em 2006 ao seu filho. É neste mesmo local que a magia acontece, uma autêntica fábrica de sonhos engarrafados, seja no formato Ruby, Tawny ou Garrafeira.

"Eu diria que os 'Garrafeiras´ são os mais elegantes tipos de Porto, passam entre três a seis anos em madeira e depois são engarrafados em garrafões de vidro - dimijons - do século XIX. Este envelhecimento parece que lhes dá uma enorme elegância. Quando um 'Garrafeira' é bom, ... é fantástico!"
Dirk Niepoort

Desde que comecei a dar atenção ao mundo dos vinhos, algo que sempre me fascinou e fez parte dos meus desejos enquanto enófilo, foi poder provar um Garrafeira Niepoort. Por sorte esse ritual já se realizou por duas vezes, com uma estreia que para mim não podia ser melhor visto ter sido com o Niepoort Garrafeira 1977 (ainda por sair para o mercado), o ano do meu nascimento, e a mais recente prova foi também ela, um momento raro, com a abertura de um demijon de 1931.

Nos dias que correm, o estilo de Porto, Garrafeira, é um exclusivo da Niepoort, e pelos preços que atingem tendo em conta a raridade dos mesmos, tornam-se objecto de culto e poucos são aqueles que lhes têm acesso. Comprova a sua raridade as poucas vezes em que foi feito e se apontei correctamente todos os anos (caso falte algum é favor indicarem): 1931, 1933, 1938, 1940, 1948, 1950, 1952, 1964, 1967 e 1977 (este último ainda por sair para o mercado).

O Garrafeira Niepoort é sempre de um ano específico, tal como os Colheita, onde após um estágio em madeira que poderá variar entre os 3 e os 6 anos, o vinho é transferido para demijons.
Um demijon ou "demijohns", é uma espécie de balão de vidro que varia entre os 7 e os 11 litros de capacidade. Foram comprados pelo bisavô de Dirk Niepoort no séc. 19, tendo sido produzidos na Alemanha em Flensburg no século 18. É então nestes peculiares recipientes que o vinho irá estagiar por longos períodos, podendo chegar mesmo aos 50 anos, sofrendo assim uma lenta oxidação (é mais lenta em vidro do que em madeira). Quando termina o estágio, o vinho é decantado e posteriormente engarrafado em garrafas de 750ml, onde vai permanecer o tempo necessário até ser colocado à venda ao público.

Caracterizar um garrafeira pode não ser tarefa fácil, mas dos dois que tive a oportunidade de provar e embora lhes tenha encontrado traços similares, notei que por exemplo o 1977 pareceu ter uma tonalidade mais aproximada a um tawny velho, enquanto que o 1931 a tonalidade lembrava um pouco mais o estilo ruby no meio com tiques de tawny no rebordo. Direi mesmo que o Garrafeira combina o melhor dos dois estilos Ruby e Tawny, indo mais longe, talvez arrisque a dizer que por isso mesmo seja o estilo de porto perfeito. A eles, aos Garrafeira, fica sempre associado o famoso "cheiro a garrafa" derivado do longo contacto com o vidro, e os aromas daquele 31 acabado de sair do demijon é coisa que me ficará na memória.

Naquele fim de almoço, que já aqui relatei, tive a oportunidade de presenciar a abertura de um demijon Garrafeira 1931 da Niepoort, e de provar um vinho com 79 anos de vida acabado de sair do único reduto que conheceu no último meio século de vida, após passagem durante 4 anos em madeirasem, sem que tenha sido decantado ou engarrafo previamente, o que aumenta ainda mais a exclusividade do momento. Um registo que fica para a vida, quer pela emoção que sentimos naquele instante, quer pela raridade que o próprio acto envolve. O Garrafeira Niepoort 1931, mostrou-se delicado, fresco, com um bouquet de enorme finesse e elegância. A precisar de muito tempo para despertar no copo, mostrando uma boa intensidade de aromas, rebuscando um pouco de tudo, misturando fruta madura com fruta em passa, vinagrinho, especiaria doce, uma complexidade que parecia nunca mais querer acabar... uma autêntica caixa de aromas. Boca muito equilibrada, muito mesmo, frescura sentida, boa espacialidade e ao mesmo tempo a mostrar-se delicado. Com uma doçura não muito pronunciada, equilibrada pela frescura e por um final de grande persistência. Sei que por mais que queira escrever sobre este vinho, vai ser sempre pouco, a nota aqui é o que menos interessa.

21 janeiro 2010

Festival Côtes du Rhône - Fritz Haag & Douro Boys

O tempo foge-me pelos dedos qual areia fina, bem o tento segurar mas é impossível, nos dias que correm as atenções e emoções andam voltadas para aquele que sem o conhecer já me rouba toda a atenção, vou ser pai. Tudo isto me serve para tentar explicar minimamente a razão pela qual as "coisas" andam meio paradas por aqui. Sentado à secretária com um copo de Porto 40 anos, as emoções que sinto ao escrever estas linhas, são tantas que nem sei por onde começar.
Realmente torna-se complicado tentar descrever com detalhe tudo o que se passou e provou, na Quinta de Nápoles (Niepoort) no passado dia 17 de Janeiro do presente ano. A romaria tinha sido feita de véspera, o chamamento foi de tal maneira forte que os enófilos acudiram de todo o lado para poderem estar presentes, naquele que desde já se assume, a meu ver, como candidato a evento do ano, chapeau Mr Dirk!

E se o Sábado já tinha sido um grande dia de provas, visitas e animadas conversas, (a contar num próximo capítulo), o Domingo foi o despoletar de um rol de emoções que marcaram todos os presentes. Vieram até nós, um grupo de 15 produtores existente vai para 17 anos (Rhône Vignobles) de uma das melhores zonas produtoras de França, Côtes du Rhône. Diga-se de passagem que é uma das zonas que mais aprecio em França e que considero ter das melhores relações preço/qualidade.
Uns mais conhecidos que outros, não poderia esquecer o Domaine Clape que se juntou também a este evento, onde todos os produtores colocaram os seus vinhos em prova para os cerca de 250 convidados que ali se deslocaram. Não entendi que seria nem o local, nem o momento para tirar notas de prova de este ou daquele vinho, dediquei-me apenas a aprender com aqueles que de tão longe vieram para mostrar o que de melhor sabem fazer. No geral fui dar com um lote alargado de vinhos que nos falam de terroir, vinhos frescos, onde a fruta se mostra viva e limpa, sem toques exagerados de doçura ou compota, onde a harmonia envolve palavras como mineralidade/fruta/madeira. Vinhos com taninos firmes e finos, sinal de longevidade assegurada, onde se invoca algum mato seco, em alguns casos algum cogumelo, tudo numa fina complexidade que nos faz ficar presos ao copo por largos instantes. Foram largas as horas de conversa e de prova com todos eles, prolongando-se desta maneira o fantástico jantar que tínhamos tido na noite anterior que falarei a seu tempo.
Como cereja no topo do bolo, nesta festa de aromas e sabores, da Alemanha veio um produtor especial e de enorme gabarito a nível mundial, em que não engana a altíssima qualidade que todos os seus vinhos transparecem no acto da prova. Se a casta Riesling tivesse deuses, o produtor Fritz Haag seria um deles. Não nego que me sinto privilegiado por ter tido o prazer de ter sido servido pelo próprio e ter trocado por um breve instante, reconheço que estive mais tempo calado porque ali só se podia estar e andar para aprender.

De Portugal estavam presentes os Douro Boys, que acabaram por ficar um pouco à margem devido ao chamariz da novidade que obviamente seria de esperar por parte dos produtores estrangeiros. Vistas as coisas, são mais as vezes que se tem oportunidade de provar os vinhos dos Douro Boys, que propriamente dos Rhône Vignobles, Fritz Haag ou Domaine Clape.

O evento culminou com um mega-almoço em plena adega, servido pelo Restaurante DOC, do Chef Rui Paula, com muita qualidade no produto apresentado como seria de esperar, temperado por uma animada cavaqueira numa mesa corrida para os 250 convidados. Os vinhos foram desfilando a bom ritmo, e não me lembro de ver um almoço onde o serviço fosse feito em magnuns de Batuta 2004 e 2005, Charme 2006 e 2007, Soalheiro Primeiras Vinhas 2007 e 2008, com outros vinhos que iam surgindo aqui e ali, que almoço... que almoço.

Muita cara conhecida, muitos amigos que dá sempre gosto rever nestas ocasiões, outras caras que se ficaram a conhecer e quando tudo estava ou pensava que estava a terminar eis a cereja no topo do bolo. A grande surpresa do dia, sim que isto ainda continuou, estava guardada para o final, mas isso penso ser um momento muito especial que pede para si mesmo um texto aparte. (continua aqui)

08 janeiro 2010

Grand´Arte Pinot Noir 2006

A DFJ Vinhos tem a maioria da sua produção e referências concentrada na região de Lisboa. Curiosamente, e apesar da dimensão da sua produção média anual – seis milhões de garrafas –, a DFJ não tem vinhas, apenas vinifica, indo buscar a matéria-prima às parcerias estabelecidas com vários viticultores do País. A maior parceria da DFJ é com a empresa da família do Eng. José Neiva Correia a Rui Abreu Correia e Herdeiros, que possui na região de Lisboa em diversas quintas, 200 ha de vinhas em produção. A quinta de Porto Franco, que muitos historiadores consideram ser uma das propriedades mais antigas do concelho de Alenquer e cuja origem é anterior à nacionalidade, é a mais importante, pela sua dimensão, porque aí se encontra o centro de vinificação para mais de 2 milhões de litros, e porque foi onde José Neiva Correia nasceu. Resta lembrar que José Neiva Correia, fundou a DFJ há uma década e que hoje é responsável por 33 marcas e 77 vinhos diferentes, oriundos de todas as regiões portuguesas, do Douro ao Algarve, exceptuando a dos Vinhos Verdes. Em prova deixo o Grand´Arte Pinot Noir 2006:

Grand´Arte Pinot Noir 2006
Castas: 100% Pinot Noir - Estágio: 6 a 9 meses em barricas de 225Lt de Carvalho Francês da Seguin Moreau. Estágio mínimo em garrafa de 3 meses. - 14% Vol.


Tonalidade ruby escuro de média concentração.

Nariz com aroma de boa intensidade, a debitar de início boas quantidades de fruta preta (framboesa, groselha) madura, ligeira compota e alguma fruta em passa, com notas de cacau morno, vegetal seco (mato rasteiro) e especiaria. A barrica está muito bem interligada com tudo muito bem misturado, mostrando-se um vinho de boa harmonia com uma delicada complexidade e frescura.

Boca a mostrar-se com corpo mediano, elegante, macio, espacialidade média num todo bem balanceado entre o peso da fruta com a madeira e a frescura apresentada. Algum cacau, especiaria e compota, bem prazenteiro e harmonioso que termina com leve secura vegetal,

Enquanto se prova este vinho, pensar-se no estilo de Pinot Noir que se encontra em França/Borgonha é sem dúvida um erro. Optei pois, por avaliar o vinho pelo que é ou seja, pelo prazer me deu e não pelo que supostamente teria que vir a ser, apenas e só porque do outro lado se faz assim ou assado. Não são assim tantos os exemplares de Pinot Noir em Portugal, embora já se conte um Pinot à moda de Lisboa, como já temos Pinot à moda do Alentejo e assim que me lembre uma versão Duriense que poderá ser a que mais se aproxima do tal sotaque Francês. Aqui temos um vinho, (preço a rondar os 8,90€), que dá prazer a quem o beber nesta altura do "campeonato" e pessoalmente não lhe daria mais tempo de guarda. Pode-se questionar se vale ou não apostar neste tipo de vinhos de castas estrangeiras em Portugal ? Vale sempre a pena desde que o resultado seja positivo. 15,5 - 89 pts

07 janeiro 2010

ALMAGrande TOURIGA NACIONAL RESERVA 2007

O próximo vinho é um Duriense extreme de Touriga Nacional, natural da Ervedosa, feito pelo enólogo Osvaldo Amado sobre a chancela das Caves Velhas (Enoport). Já o tinha provado aqui numa anterior colheita, mas voltei a encontrar-me com ele com uma roupagem mais moderna e actual.
É um daqueles vinhos que se podem apelidar de modernos, de fácil agrado a um alargado leque de consumidores. A bem dizer, é difícil não se gostar de um vinho como este AlmaGrande, muito apetecível na maneira como se mostra, fruta madura e frescura a contrabalançar com a madeira harmoniosa que envolve o conjunto, tem aquele sotaque do Douro mas sempre com uma maneira muito actual de se mostrar durante a prova.

ALMAGrande TOURIGA NACIONAL RESERVA 2007
Castas: 100% Touriga Nacional - Estágio: 12 meses em barricas de Carvalho Francês e 6 meses em garrafa. - 13,5% Vol.

Tonalidade granada vivo com concentração média/alta.

Nariz com muita fruta vermelha madura (amora, cereja) e ligeira compota, torrada com manteiga, doçura leve acompanhada de baunilha, sentindo-se o aconchego morno e harmonioso da madeira, compensado por uma frescura que lhe corre pelo meio. Em conjunto de mediana complexidade, sente-se uma Touriga, ainda, um pouco recatada, embora queira mostrar ligeiro floral em segundo plano, que se mostra frio como um lagar de granito.

Boca com entrada fresca, de corpo médio e bem aprumado com fruta madura (amora, cereja), ligeiro vegetal (esteva), tudo em boa espacialidade, rodeado pela madeira que confere à boca uma maior harmonia de conjunto. Macio, de prova muito agradável, conjugando alguma compota a meio palato, sempre com frescura a contrabalançar um conjunto que mostra ter alguma profundidade.

É uma bela aposta, com preço recomendado a rondar os 7€, produzido em quantidade suficiente 13500 garrafas, de um vinho que se deixa beber muito bem. Mostra uma Touriga Nacional numa versão um pouco mais internacional, o que não é grande novidade nem no Douro nem nas restantes regiões de Portugal. Por momentos recordou-me o Quinta da Alorna Touriga Nacional Reserva 2006 que já aqui provei, embora este AlmaGrande mostre um pouco mais de frescura e menos concentração/extracção da fruta. Pronto a beber agora ou para deixar repousar durante alguns anos sem muitas preocupações. 16 - 90pts

06 janeiro 2010

FIUZA SAUVIGNON BLANC 2009

O vinho que aqui coloco é o primeiro branco de 2009 provado no Copo de 3, um 100% Sauvignon Blanc proveniente do Ribatejo, agora TEJO, onde Joaquim Mascarenhas Fiúza herdeiro de uma tradição familiar já secular no mundo do vinho, junta-se em parceria com o enólogo australiano Peter Bright, nascendo assim a Fiuza & Bright.

FIUZA SAUVIGNON BLANC 2009
Castas: 100% Sauvignon Blanc - 12,5% Vol.


Tonalidade amarelo citrino de baixa concentração.

Nariz com aroma que diz pouco da casta, mostra-se pálido e algo apático no pouco que tem para mostrar. De facto não esperava um Sauvignon Blanc tão pouco comunicativo, costuma ser uma casta tagarela e algo exibicionista, o que pode levar alguns até a afastarem-se da mesma. Neste caso temos uma frutinha tropical, com toque herbáceo fresco (talos) e sensação de leve frescura a envolver o conjunto.

Boca na mesma onda da prova de nariz, estrutura mediana/baixa e fresca, sem grande concentração ou afirmação na sua presença. No final de boca desperta alguma fruta madura de cariz tropical, em persistência moderada/baixa.

Pessoalmente não foi branco que em prova me transmitisse um grande entusiasmo, para Sauvignon Blanc esperava um vinho ainda que sem grandes complexidades um pouco mais expressivo. Entra quase naquele chavão do parece que é mas não é... bebe-se mas não deixa saudade. Pelo preço pedido que ronda os 5€, há melhores brancos no mercado, com mais interesse e identidade. 13,5 - 84 pts

2010 Odisseia do Copo

Pretende-se com isto um texto curto e objectivo, nada de grandes demoras e conversa da treta para encher chouriços (já por aí anda quem domine esta arte). Para os mais distraídos já estamos em 2010, o ano da Odisseia no Espaço foi em 2001 mas muda-se e fica 2010... o que pouco quer dizer pois ainda continuamos a sonhar com naves espaciais, a ver dizer-se que temos os melhores vinhos do mundo apenas porque ganharam uma medalha ou a ver gente que dá notas a vinhos com a mesma pontaria com que faria tiro de precisão a 500 metros... um desastre.

O ano de 2009 já fechou as portas, espera-nos um novo ano cheio de emoções pela frente, da minha parte vão ser bastantes. O Copo de 3 prepara-se para festejar em breve o seu quinto aniversário, estando programadas algumas novidades como a actualização de conteúdos, reformulação do espaço, etc... mas o melhor é mesmo ir passando por aqui.

No corrente mês de Janeiro irei publicar a devida altura, as notas daqueles que considerei os melhores vinhos que tive a oportunidade de beber em 2009, toda as notas são recentes pelo que alguns dos vinhos foram provados por mais que uma vez.

Deixando a retoiça de lado, o tempo urge para todos os vinhos em lista de espera, pelo que me resta desejar a todos aqueles que visitam o Copo de 3, um EXCELENTE 2010
 
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