Copo de 3: Victorino 2007

12 novembro 2010

Victorino 2007

Isto é vinho, isto é vinho para se beber...dizia-me certa vez um bom amigo num daqueles dias de grande jornada enófila, o vinho naquela altura nada tinha que ver com este, mas a frase essa serve para muitos outros. Foi também rodeado de amigos que assisti ao lançamento e apresentação deste vinho em Zamora pelo próprio Marcos Eguren, fundador do fantástico projecto Numanthia-Termes na região de Toro, que após venda deste surgiu no mercado com novo projecto de nome Bodegas Teso La Monja (Toro). A vida de uma cepa na região de Toro não é fácil, os solos arenosos cobertos de cascalho não são propriamente dos que mais facilidades concedem à planta, o segredo talvez more em todo aquele cascalho que cobre as vinhas, as cepas centenárias vão-se retorcendo à medida que os anos passam, vão ganhando formas que lembram as mãos do diabo a querer apanhar os incautos visitantes. O respeito esse é transmitido para os vinhos que dali vão saindo, este Victorino foi na altura da apresentação o vinho que mais prazer me deu ao provar... o colossal Alabaster conquista pela opulência e poderio, mas o Victorino tem aquele toque misterioso e ao mesmo tempo fresco e sombrio, ter este vinho no copo é quase que nos transportar para uma arena com um Miura à nossa frente. As uvas 100% Tinta de Toro vieram de Valdefinjas, cepas com 45 anos de idade, plantadas em solos arenosos cobertos do tal cascalho. Podia estar aqui o resto do dia a falar sobre este vinho, sobre este projecto, sobre os seus vinhos tanto os de Toro como os da Rioja, tudo coisinhas muito boas que deveriam fazer parte das garrafeiras dos verdadeiros enófilos, vinhos onde encontramos a pura expressão da uva, fruta limpa fresca e madura, barricas por vezes presentes mas que com os anos se acomodam e deixam vinhos que se tornam pecaminosos. Este Victorino é um desses vinhos, dos tais que me dão um gozo enorme beber e saborear... porque isto, é vinho, isto é vinho para se beber.

Victorino 2007
Castas: 100% Tinta de Toro - Estágio: 18 meses em barrica Carvalho Francês - 14,5% Vol.

Tonalidade ruby muito escuro, com leve toque glicérico.

Nariz que se destaca desde logo pela frescura e pureza da fruta negra (amora, groselha) bem madura que nos chega embrulhada num apertado rendilhado de aromas que conferem uma bela complexidade ao vinho. Apesar de algo cerrado naquilo que tem para mostrar, a evolução no copo merece destaque, o vinho dá uma prova bastante boa desde já, a mostrar já bastante equilíbrio entre partes. Notas de fumo, cacau, caixa de especiarias, tabaco seco, caramelo, tudo com sentido de profundidade apesar da leve sensação de austeridade que se sente.

Boca ampla, com fruta bem presente, estrutura firme com boa espacialidade, frescura a embalar todo o conjunto de sensações encontradas na prova de nariz, mais tabaco seco, especiaria doce e no final a sentir-se ligeiramente austero, sinal de que andam por ali uns taninos a pedir tempo... e tempo é coisa que não lhe falta pela frente.

É um vinho muito sério e daqueles que dá um gozo enorme beber já mas que certamente daqui por mais 5 ou 10 anos estará ainda bastante melhor pois tem todos os atributos para uma evolução em grande. O preço deste vinho depende muito de onde se consegue arranjar, este exemplar custou cerca de 30€ o que revela uma excelente relação preço/qualidade. Resta-me esperar pelo lançamento do 2009 que promete ser ainda melhor que este 2007, enquanto isso, vou provando outros vinhos... 17,5 - 94 pts

1 comentário:

Abílio Neto disse...

JP,

Outra muito boa crónica, mais do que crítica, isto é mesmo uma crónica.

Sobre o vinho, sobre este, não falo.

Abr.,

An

 
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