Copo de 3: Emilio Hidalgo Amontillado Viejo El Tresillo 1874

20 junho 2012

Emilio Hidalgo Amontillado Viejo El Tresillo 1874


Assumo ainda que timidamente esta minha paixão pelos vinhos do "Marco do Jerez" e de Montilla-Moriles. Neste caso irei  falar de um dos grandes vinhos das Bodegas Emilio Hidalgo situadas em Jerez de la Frontera (que dá nome ao vinho Jerez), fundadas em 1874 e desde sempre (vai na quinta geração) na posse da família Hidalgo. A denominação Jerez faz parte do Forum of Historical Viticultural Appellations of Origin , juntamente como o Vinho do Porto, Rioja, Bordeus, Champagne, Cognac e Barolo. O que aqui encontramos são vinhos únicos no Mundo, vinhos carregados de emoção, de alma, vinhos que transpiram o terroir onde as cepas moram, vinhos grandiosos e eternamente esquecidos. Neste caso domina a casta Palomino Fino, num estilo peculiar de vinho generoso chamado Amontillado. Não tem muito que enganar, a categoria de generosos de Jerez são vinhos secos como consequência do seu mosto fermentar por completo, neste caso mosto de Palomino Fino, debaixo da "flor" formada pelas leveduras. É com esse estágio biológico (debaixo da flor) e após respectiva subida da graduação alcoólica não tolerada pelas leveduras autóctones que a "flor" vai desaparecendo e permitir ao vinho entrar em estágio oxidativo. Ao vinho resultante deste estágio misto (biológico e oxidativo) dá-se o nome de Amontillado. De forma muito básica, o vinho primeiro fica "seco" debaixo do manto de "flor", ganhando depois complexidade quando entra na fase oxidativa e o manto de "flor" desaparece. A graduação final pode variar entre os 16º /22º e deve ser servido a temperatura a rondar os 13/14ºC.

Para introduzir este vinho teremos de recuar até 1874, o ano em que foi criada esta Solera e que faz parte da base deste mesmo vinho, portanto como será de ver temos no copo algo muito especial. Falar de um vinho como este ou qualquer outro que envolva tamanha complexidade e requinte, torna-se por vezes complicado e também algo subjectivo pois debaixo do óbvio há sempre lugar para deixar fluir as emoções, e a prova de um vinho tem sempre um lado emocional. A começar pela sua tonalidade que nos remete para o topázio, para um âmbar muito polido e cristalino, nada oleoso. O seu aroma é de início redutor, mostra laca e algum verniz, pede tempo e paciência... não se julgue no imediato porque na realidade isto é vinho para se apreciar com muita calma. No seu subtil e delicado rendilhado de aromas destaca-se de início notas de açafrão com frutos secos tostados (avelã), depois alguma casca de laranja caramelizada, fundo salino com toque de iodo. Profundo e misterioso, na boca parece que enrola, belíssima concentração de sabores e acidez a contrabalançar a graduação de forma excelente, conquista pela sua personalidade muito vincada e intrigante, entrada com amêndoa, aquele toque oleado da noz e fruta em passa muito ligeira (tâmara), fino caramelo, sempre muito sério e de sabores marcantes, tanto em presença como em profundidade. Final de grande categoria, com toque de amêndoa amarga e alguma salinidade. 

Na memória ainda tenho o épico Navazos La Bota de Amontillado Viejísimo (nº 5) “NPI” que também a seu tempo irá aqui ser colocado. Focando apenas na prova deste vinho que já de si é excelente, preço varia entre 50/65€,  foi suplantado de forma categórica por outro também da sua categoria do qual irei falar mais à frente. Esta foi a minha segunda garrafa que tive o enorme prazer de poder ir bebendo ao largo de toda uma semana e acompanhar a evolução do vinho em copo... algo mágico e aconselho a quem puder que o faça. 95 pts

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