Copo de 3: dezembro 2012

21 dezembro 2012

Nectar PX Gonzales Byass

Ainda nos vinhos da Gonzales Byass, salta para o copo o Nectar, um vinho doce elaborado a partir da uva Pedro Ximenez. Desta vez estamos na denominação de Jerez, onde o processo de passificação ao sol se mantém, beneficiando do clima e do terroir, com estágio neste caso que rondou os 8 anos. Volto a escrever que é vinho doce, para muitos bastante doce, chega a ser meloso no copo devido à alta densidade provocada pela quantidade de açúcar presente. 

O que o difere por exemplo do já aqui falado Alvear ? Este é mais fresco, menos pesado e menos denso, surge doce mais mais delicado na prova que dá. No aroma cheio de praliné, uva passa, café e caramelo. Lá no fundo o amparo da madeira velha, aquele toque do bombom de licor. Somos rodeados de aromas doces, na boca a entrada é redonda e ampla, frescura suficiente, depois é uma passagem com untuosidade, rola sobre a língua e deixa sabores de tâmaras, caramelo, avelâ, dando um final largo e com boa persistência. É vinho que se bebe a qualquer altura do dia, liga bem com chocolate preto, liga bem misturado com um gelado de nata e frutos secos. Embora mais fresco não me conseguiu cativar tanto como outros exemplares que conheço, fica a sugestão que se consegue comprar por cerca de 8€. 91pts

Leonor Palo Cortado Gonzales Byass

Foi lançamento recente, foi coisa que deu que falar e muito, a sua apresentação com respectiva prova comentada pelo enólogo foi realizada online, com apoio de meios como Twitter e Facebook. Foram enviadas amostras para vários provadores, eu fui um dos que o recebeu e deixo aqui o meu testemunho sobre mais um fantástico Palo Cortado, desta vez elaborado pelas Bodegas González Byass. A minha inclinação por este tipo de vinhos não é recente, vai para muito que os bebo (mais que provar) e sempre à mesa com amigos à volta, tornando-me a repetir digo que são vinhos para a mesa, altamente gastronómicos e reis e senhores da harmonização com o impossível e toda a parafernália de tapas, pintxos e petiscos que se possam colocar antes e durante a refeição.
Depois a malta gosta de complicar aquilo que é simples, num vinho como este o que liga bem será sempre um queijo Manchego em modo Reserva, tipo Boffard ou para esticar a corda um bom torrão de gema tostada, delicadamente surpreendente.

Dotado de um rico e complexo aroma, mistura o nariz de um amontillado com a boca de um oloroso, passou 12 anos em estágio e o preço ronda os 20€. Delicioso, incisivo com notas de verniz e profundo, especiarias com caixa de charutos, amêndoa torrada, avelã que lhe confere quase um toque cremoso tanto em nariz como na boca, aquela madeira velha em tom morno com algum caramelo, prazenteiro com fruta cristalizada, bom de cheirar, toque salino e iodo Todo ele transpira harmonia, boca com boa presença e uma belíssima entrada, preenche todo o palato, vincado, seco, longo, com frutos secos, belíssima acidez, ao mesmo tempo suavidade na sua passagem, baunilha, salinidade em fundo com final longo e de boa persistência. Um exemplar a ter muito em conta. 93 pts

20 dezembro 2012

Vinhos em conta para o Natal.

Oh meu deus! Oh meu deus! Oh meu deus! Estamos quase no Natal e não sei ainda que vinhos escolher, caramba que nem sequer tenho tempo de andar de loja em loja a ver das referências xpto e o dinheiro na carteira não é assim tanto. Ora por causa disto mesmo aqui ficam as mais que costumeiras e que brotam um pouco por todo o lado, as sugestões de Natal para todos aqueles que sem gastar muito possam beber bem e em conta.
Entre as grandes superfícies comerciais (ou garrafeira) escolhi os que abaixo coloquei, podiam ser outros mas foram estes, vinhos que gosto e que costumo beber, certamente alguns deles vão fazer parte do meu Natal. E num tom de provocação o tinto para o bacalhau/polvo e o branco para o peru, que o Moscatel/Porto liga sempre bem com a doçaria da época ou com um bom chocolate/torrão.

Até 5€
Espumante: Caves São João Reserva Bruto (Continente)
Brancos: Herdade Grande Colheita Seleccionada 2011 (Continente)
Tintos: .Com 2011 ou Casa da Passarela 2008 (Continente)
Sobremesa: José Maria da Fonseca Alambre 2007 / JP Moscatel 2007

Até 10€
Espumante: Quinta do Boição Bruto Reserva (Continente)
Branco: Vila Santa Reserva 2011
Tinto: Burmester Reserva 2009 / Dona Maria 2009
Sobremesa: Quinta do Infantado Reserva Dona Margarida

Viña Tondonia Reserva 2001

Mais um pequeno momento de luxo à mesa, o vinho é proveniente das Bodegas Lopez Heredia (Rioja), um clássico, um modelo do passado tornado presente. O ano da colheita foi considerado excelente pela entidade reguladora da Rioja, dormiu durante 6 anos e veio recentemente para o mercado a rondar os 20€ por garrafa. Não escondo o gozo tremendo que me dá poder comprar um tinto de 2001 sabendo que tem em pleno todos os seus atributos, que é feito em quantidade apreciável (290.000 garrafas) e cuja graduação se situa nos 12,5%Vol. Tudo isto apenas mostra que é no tempo que os grandes vinhos se mostram, é nesse mesmo tempo que esses vinhos precisam de ficar adormecidos, embora este quando colocado à disposição do consumidor ainda tenha larga vida pela frente... é assim a árdua vida de um grande vinho.

O vinho em causa vai buscar o nome à vinha que lhe dá origem, Tondonia, nos seus mais de 100ha onde o lote de que resulta é composto por Tempranillo (75%), Garnacho (15%), Graciano e Mazuelo (10%). Complexo, fresco, fruta vermelha (amora, framboesa, morango) madura em perfeita sintonia com a madeira por onde passou. Pelo meio finas ervas, toque mineral com especiaria fina, todo ele de fino recorte e bom de cheirar, muito preciso na forma como se apresenta. Dá aquela sensação de aconchego, elegante na boca, muita serenidade apesar de ter nervo e mostrar-se com bastante vivacidade na fruta, a frescura nunca o abandona, em final de grata memória. Sabe ao que cheira e cheira ao que sabe, pura classe numa experiência que se torna de imediato num amor à primeira prova. São vinhos muito especiais que todos os apreciadores deveriam beber pelo menos uma vez na vida. 95 pts

19 dezembro 2012

Quinta de Sant'Ana - Vertical Tintos


Foi a convite do produtor que me desloquei no passado dia 27 de Novembro à Quinta de Sant´Ana (Mafra) situada na vila de Gradil, para a apresentação dos novos tintos, porque apesar dos brancos da casa ali também se produzem tintos, belíssimos por sinal. É um casario com história, cujo passado remonta a el Rei D. Luís, na passada do tempo a Quinta foi comprada pelo Barão Gustav von Fürstenberg e nos dias de hoje os destinos da Quinta de Sant'Ana são comandados pela filha Ann Frost e pelo seu marido James Frost. O génio da criação ficou a cargo do enólogo António Maçanita, entusiasta, estudioso e que conquista pela forma apaixonada e didáctica como fala sobre o que faz.

É um local fantástico onde reina uma acalmia reconfortante com a Real Tapada de Mafra em pano de fundo, os 10 hectares de vinha ondulam de forma graciosa na paisagem. No seu todo são vinhos marcados pela frescura, onde brilham castas como Riesling, Sauvignon Blanc ou Pinot Noir, num total de cinco brancos e cinco tintos, dos quais seis são monovarietais. Após explicação detalhada de solos, castas e modo de vinificação,  teve lugar a prova vertical dos tintos ali produzidos.


Começou-se com o Quinta de Sant'Ana Pinot Noir, direi que foi uma belíssima surpresa, encontrei aqui os melhores exemplares de Pinot tendo em conta aquilo que é costumeiro por terras de Portugal. Sente-se de imediato o Pinot no nariz, com muita frescura, deliciosa fruta com boa definição, tem aquele travo vegetal e a secura no palato que o remete para um nível muito interessante. Preço que ronda os 12€ num conjunto que vale a pena guardar um par de anos. Notou-se que o 2009 mais vegetal e a dar menos lugar à fruta, esta mais delgada e em tons de cereja. Ainda cheio de vida será para beber ou guardar. O 2010 dá mais lugar à fruta com toque vegetal, mais presença de boca, mais cheiroso, todo ele com bastante harmonia e os nervos de quem pede mais um pouco de tempo em garrafa, foi a meu ver um salto de qualidade em relação ao anterior, talvez fruto da afinação do perfil pretendido. Por último o 2011, mais moderno, com menos arestas e mais cheio, fruta gorda e sumarenta sempre com a frescura e a delicadeza de conjunto presente, barrica muito bem integrada. Aquele que melhor conjuga todos os componentes, com mais músculo, intensidade e postura da fruta.


Já no Quinta de Sant'Ana Reserva, preço a rondar os 15/20€, provou-se a primeira colheita 2005 que é 100% Aragonez. Produção pequena que rondou as 2300 unidades,  com boa frescura, mais cerrado com fruta e madeira em sintonia, hortelã-pimenta, na boca com boa densidade da fruta com um toque de gulodice envolvente com secura no final. A colheita 2006 (60% Touriga Nacional, 40% Aragonez) mais fácil, intenso e guloso, notas de barrica a puxarem pela fruta escura, densa e sumarenta, boa complexidade e  final de boca de boa persistência. A colheita 2007 foi promovida a topo de gama pelo que se passou para o Reserva 2008, um vinho temperamental, menos fácil na sua abordagem, com algum café, pimenta, fruta sólida e delineada, vegetal, fresco, carnudo e cheio de vida. A pedir tempo, um vinho que gostei bastante.

Passagem pelo topo de gama da casa, o Homenagem*, primeiro na colheita 2007, entende-se a razão de ser o topo da casa. É resultado de um lote de Merlot a partes iguais com Touriga Nacional, a preço que ronda os 25€ num vinho complexo, charmoso e fresco. É naquela contagiante harmonia entre vegetal em versão ervas de cheiro com fruta madura e limpa que o vinho nos conquista, depois a madeira está em plena harmonia, contribui com aconchego de tons fumados, cacau... resulta um vinho de grande categoria que dá um gozo tremendo beber por estas alturas. Já a sua versão 2009 se mostrou mais madurão, apesar da harmonia de conjunto a fruta mais doce, menos coeso e mais espaçado, não será certamente um vinho no ponto de consumo, embora não o encontre ao nível do anterior. O 2010 vai de encontro ao 2007, desponta o Merlot, num todo apertado com muito por aparecer, fruta sólida com pimentas, vegetal e alguma barrica. Boca mais ampla que o 2009, fruta e carga vegetal a dar secura... precisa de tempo, para brilhar ao mais alto nível.

Durante a prova foi ainda apresentado o Quinta de Sant'Ana Touriga Nacional 2011, um vinho que promete dar que falar, aliando frescura com uma boa definição de conjunto, sem cair no mais do mesmo que muito varietal desta casta se transformou. Um vinho gingão, cheio de coisas boas para dar e mostrar... vamos ficar atentos. O objectivo fora cumprido, seria tempo de ir almoçar... a prova de brancos ficará para outra altura. 

18 dezembro 2012

Viña Tondonia Reserva Branco 1996

Antes de começar que se entenda que este Reserva 1996 é um puro Clássico, daqueles a sério e não apenas de nome, completamente imune a modas ou pressões de consumidores histéricos por beberem tudo quanto é novo e amantes de cheiro a borracha e shampoo barato. Claro que não é vinho para meninos, torna-se à partida complicado para muita gente entender que um vinho seja colocado no mercado passados 6 anos da sua colheita. É na sua essência e na essência de quem o faz, um vinho para gente que sabe ao que vai e sabe o que quer. Falar de Lopez Heredia (Rioja) é falar de um saber acumulado vai para mais de um século, começaram naqueles lados por volta do ano 1883, produzindo vinhos de características únicas, que seguem a tradição à risca e que conquistaram por direito próprio um lugar muito especial no panorama vínico mundial, tornando-se autênticos vinhos de culto. A produção deste Reserva Branco 1996 (Malvazia, Viura) ficou limitada a 20.000 unidades, preço a rondar os 20€ e digamos que interesse é o que não falta quando temos um branco como este no copo, um autêntico desafio e um despertar de sensações onde a fina complexidade própria de um grande vinho se deixa logo notar. A dizer que acima deste Reserva ainda vem o Gran Reserva que tem direito a 10 anos de estágio... uma autêntica provocação pois quando sai para o mercado já grande parte da vizinhança morreu de velha. 

E o que podemos esperar encontrar num branco como este ? Antes de tudo quero destacar a garrafa, transparente e a mostrar com orgulho o que leva lá dentro. Quanto ao vinho, uma frescura deliciosa para a idade, com um bouquet característico onde o bailado após algumas voltas no copo começa a despontar fruta madura com algumas notas de geleia fina (citrinos, pêssego, nectarina), aroma envolvente com óleo de noz, flores brancas, baunilha, alguma resina e ramo de cheiros em fundo. Muita subtileza, nada de excessos num perfil muito bem conduzido com uma intensidade moderada. Na boca uma bela presença, acidez que lhe garante energia suficiente no palato, filigrana entre componentes, muito detalhado, travo ligeiro a mel, toque de limão e uma envolvente sensação de untuosidade, flores brancas novamente e uma profundidade muito boa com final de boca de boa persistência. Um branco com classe, vinho fino, com alma e que ainda vai durar e durar... foi bebido juntamente com uma garoupa de nobre porte assada no forno com tudo aquilo a que dito exemplar tinha direito. 93pts

17 dezembro 2012

Ferrer Bobet Vinyes Velles 2010

Há projectos que nascem como que destinados ao sucesso ao mais alto nível. Obviamente que nada acontece por acaso e a mestria de quem mexe, faz e cria, tem muito que se lhe diga, é o caso dos Ferrer Bobet que nasceram para o estrelato e a cada colheita que passa são cada vez mais objectos de cobiça face à alta qualidade apresentada. Depois de ter aqui falado do 2009, agora com a nova fornada surge o 2010 também Vinhas Velhas. Novamente a mostrar-se um vinho tremendo, uma força da natureza, um poderio enorme regulado desde já por uma deliciosa harmonia e frescura. Uma abordagem de classe, que o distingue da grande maioria dos seus conterrâneos do Priorato. Um vinho que nos diz que ainda está muito longe do seu melhor momento, apesar de proporcionar desde já uma prova de grande gabarito pois tudo parece nos seus devidos lugares mas ainda por catalogar ou com luz suficiente para que se possa vislumbrar de forma correcta. É por isso um vinho ainda com muito tempo pela frente, 20 anos à vontade, todo ele assente numa estrutura com muita frescura e taninos em fase de acomodação. Depois numa boa intensidade de aromas, é despejar frutos do bosque, muita baga sumarenta e compacta, framboesa, com a madeira ainda a marcar presença mas já com algum entrosamento e elegância. Chocolate, balsâmico, baunilha e pimenta preta, muita frescura. Boca cheia, ampla, profundidade de aromas e sabores, chocolate negro, denso, fumo, muito saboroso e em final longo com toque mineral. Fez-se uma pausa, uma vénia, falou-se de vinho e do vinho, os convivas elogiaram o que tinham no copo, durante largos minutos ganhou novos cheiros, pedia tempo, muito tempo, vamos fazer-lhe a vontade. Enquanto isso o Ensopado de Lebre acompanhava de forma magistral, quando este acabou foi altura de abrir outra garrafa mas isso é conversa para outro post... O vinho que aqui falo tem preço a rondar os 28€, não sendo barato também não é caro face à qualidade. Não é vinho para gente apressada, é vinho de guarda, de longa guarda... para que daqui a 10 anos se mostre como adulto e não como uma criança com os sapatos do pai. 94pts

14 dezembro 2012

Alion 2003

Foi bebido com enorme prazer por um pequeno grupo de amigos, em noite grande este foi um dos que ajudou a abrilhantar a festa. Para os mais distraídos este vinho é pertença do grupo Vega Sicilia, que decidiram vai para largos anos produzir um vinho mais moderno mas de inegável qualidade, mais acessível e que proporcionasse bastante prazer ao consumidor. Nasceu assim o Alion nas Bodegas Alion, também ele filho da Ribera del Duero, proveniente de vinhedo 100% Tempranillo com idades compreendidas entre os 25/30 anos. Passou 13 meses em barrica e o restante estágio em garrafa, vinho sumptuoso e de enorme classe. Gosto de vinhos com esta pureza de aromas, onde se sente a fruta de forma limpa, sem nada em cima ou ao lado, está ali e pronto, depois venha o resto com muita harmonia e boa presença. Aqui é isto que temos, a fruta, framboesa, cereja, coisas boas, com acidez presente que se acopla ao refinado bouquet, café expresso bem cremoso, leve ponta vegetal a recordar chá preto, cacau e algum regaliz no fundo. Dá gosto rodopiar no copo e voltar a cheirar, todo ele muito detalhado e refinado, refinado bouquet com a entrada de boca a mostrar-se amplo e frutado, a ocupar todo o espaço, todo o palato preenchido por um vinho que dá um gozo tremendo a beber. Sente-se que tem presença, mas ao mesmo tempo é sedoso e fresco, sumarento e guloso... um deleite para os sentidos. Final longo e persistente. Ainda sou do tempo em que se comprava com alguma facilidade na casa dos 35€... hoje em dia a procura aumentou e o vinho passou para a casa dos 45€. Resultado da fama aliada a uma invejável consistência, colheita após colheita, porque este... é dos que duram. 95 pts

11 dezembro 2012

Quinta de São Sebastião branco 2011

Voltando aos vinhos da Quinta de São Sebastião ali em Arruda dos Vinhos, falo do branco colheita 2011 de que gosto particularmente e que resulta de um lote de Arinto com Sercial. Agradou-me acima de tudo pela frescura, pela mineralidade e até pela diferença que não o empurra na direcção "mais do mesmo". O preço na casa dos 5€ faz dele um alvo muito apetecível, há mais caros e que não dão tão boa conta de si nem do que temos na mesa, por entre os seus aromas citricos  e de fruta amarela, mora uma leve ponta doce a lembrar mel que lhe confere ligeira sensação de untuosidade na boca. É este gato e rato entre acidez e toque mais gordo que lhe atribuem uma graciosidade salutar. Nota-se que ainda está algo tenso, poderá melhorar na garrafa, é algo que vou querer seguir de perto, enquanto isso na boca todo ele com boa frescura, acidez limonada, rasto mineral numa boa amplitude com final frutado e persistente. Uma belíssima surpresa que casou na perfeição com umas Ameijoas à Bulhão Pato. 90pts

Herdade do Rocim branco 2011

Mantendo as provas nos brancos e ainda pelo Alentejo, falo do Herdade do Rocim branco da colheita de 2011, branco que sofreu mudança no seu rótulo que agora se mostra bem mais apelativo. O vinho é um lote composto por Antão Vaz, Roupeiro e Arinto, o resultado ficou longe do esperado, a culpa foi do tinto que se mostrou de forma garbosa e acima dos anteriores lançamentos. Aqui encontramos o oposto do tinto, é um vinho que cheira a pouco, demasiada finura, com a fruta contida e bastante compacto e achatado, comunica pouco o que não abona muito a seu favor uma vez que ou é branco de guarda (o que não creio) e apenas se vai mostrar daqui por uns anos, ou então é contenção a mais e não me agradou. A fruta presente mas sem grande estímulo, nota de folha de limoeiro e ligeira sensação de arredondamento com boa frescura pelo meio. É um vinho de médio corpo com final médio\curto cujo preço anda na casa dos 7\8€. 87 pts.

06 dezembro 2012

Esporão Reserva Branco 2011

Clássico de longa data e daqueles que por menos de 10€ (excelente opção para o Natal) nos enche de satisfação em formato branco que ora se bebe em novo, ora podemos dar-lhe uns anos em cima que não se chateia minimamente. Tem havido por aqui alguma agitação no perfil, afinação aos tempos que correm talvez, o vinho em si já se mostrou de maneira diferente, talvez a minha maneira de olhar para ele fosse outra. Fala-se que é da madeira, mas essa sempre  dele fez parte, sempre a teve, sempre por lá passou... tal como na minha garrafeira. É Reserva 2011, branco, com os aromas e sabores dos vinhos brancos do Alentejo, o trio Antão Vaz, Arinto e Roupeiro mostram-se à grande com toque de Semillon à mistura. Frutas frescas, doidivanas, com a madeira a meter ordem na sala e a aconchegar tanto nariz como palato. Todo ele fresco, muita fruta, alguma mais fresca (citrinos) outra mais madura com carga de tropical, depois o amanteigado ligeiro, rebola no palato com algum peso, frescura muito boa que o faz perdurar a bom termo no final de boca. Gosto de brancos assim... 91 pts

Vinho/Comida e agora ?

É o derradeiro momento, a harmonização entre vinho e comida. Por norma e como em tudo na vida, temos a tendência para complicar coisas que na realidade são fáceis e quase triviais, devemos pois seguir o instinto, o gosto pessoal leva-nos quase sempre a escolher algo que se adequa ao pretendido. Mas o que é isso de harmonizar ? Simples, é Conseguir tirar o maior proveito da ligação Vinho/Comida sem que nenhum dos dois saia prejudicado, fazendo sobressair o que há de melhor na comida realçando ao mesmo tempo as subtilezas do vinho (regra nº1).

Muito se escreve, escreveu e continuará a escrever sobre este tema, as abordagens são variadas, algumas fazem-se querer mais verdadeiras que outras, embora seja tudo muito subjectivo pois baseia-se pura e simplesmente no gosto de cada um.... aqui e em breves linhas tentarei de forma simples explicar por onde me guio na tentativa de combinar aromas e sabores. 

AVISO: Não há a harmonização perfeita, apesar daquelas bem clássicas tantas vezes ouvidas e feitas, pela mesma razão que a prova de um vinho é algo tão subjectivo que varia de provador para provador. A percepção do gosto doce, salgado, amargo e ácido varia de pessoa para pessoa, portanto o que para mim pode estar salgado para a pessoa ao meu lado pode não estar, logo o vinho a servir poderá à partida ser diferente. Algumas noções a ter em conta:

-a cozinha regional tem como melhor aliado os vinhos da sua região. O que não implica que vinhos de outras zonas consigam também um resultado positivo.

-Uma maneira fácil de entender a "coisa" é a partir do momento da confecção em que devemos tentar encontrar pontos de comunhão entre vinho/comida. Começar pela base do prato, se é vegetal, carne, peixe, caça... depois disto o leque de escolhas começa de imediato a reduzir, apenas conjugar os aromas e sabores essenciais do prato com os do vinho.

- Pratos leves devem ser acompanhados por vinhos leves.
Vinhos jovens, redondos, frescos ligam bem com pratos mais simples, salgados e com alguma acidez. 

- Pratos ácidos devem acompanhar vinhos leves e com boa frescura. No entanto se a acidez de ambos for levada a extremos, anulam-se por completo, daí a complicação de harmonia com pratos mais avinagrados. Nos pratos onde surge o molho de tomate, pedem-se vinhos com uma boa acidez, brancos ou tintos.

- Pratos gordurosos e untuosos precisam de vinhos com taninos mais potentes e acidez alta (que corta a gordura do prato) uma nobre feijoada de javali ligará sempre na plenitude com um vinho encorpado, de boa acidez onde os taninos marcam presença, enquanto um vinho jovem e delgado seria por completo arrasado.

- Pratos com sabor amargo (rúcula, espargos) implica que se evitem ligações com vinhos de pendor mais herbáceo. Caso seja uma salada, pode entrar em jogo o queijo, fruta, e neste campo começar-se a pensar de imediato em vinhos frutados, ligeiros e com boa acidez, juntar-se uns gomos de laranja ao encontro dos aromas mais citrinos do vinho ou uns cubos de pêssego caso o vinho seja mais dominado por este tipo de fruta. Aumentar um pouco mais a complexidade se a salada levar um molho mais cremoso e uma carne branca ou mesmo camarão na chapa, então poderemos pensar por exemplo num branco com leve estágio em madeira, um tinto fresco, jovem de boa acidez.

Continua...

04 dezembro 2012

Grandes Quintas Reserva 2009

A Casa d´Arrochella é nos dias de hoje um dos produtores do Douro cujos vinhos faço questão de ter por perto. Gosto da apresentação, gosto do preço praticado em toda a gama e acima de tudo o que encontro dentro da garrafa dá-me bastante prazer à mesa. O vinho que agora falo é o topo de gama, o Grandes Quintas Reserva do ano 2009, vinho que é produzido a partir de mais de 80% de vinhas velhas e cujo preço ronda os 15€, numa produção total que rondou as dez mil unidades, da responsabilidade do enólogo Luís Soares Duarte. Gosto da maneira como se combina a austeridade e imponência do Douro com o toque de leve modernidade, sempre com a frescura em grande plano. Este é um vinho cheio de coisas boas, fruta bem delineada, limpa e airosa, a madeira muito bem trabalhada e em grande sintonia, muito apelativo na sua complexidade, nos toques de esteva e especiarias. Na boca é todo ele elegante, fresco, balsâmico tal como no nariz, tabaco, leve tosta, taninos finos com leve presença no final. Tudo muito bem estruturado, capaz de aguentar mais uns anos em garrafa onde irá refinar o apelativo bouquet que agora apresenta. Pede pratos bem temperados, com alguma gordura que combine com a boa acidez que o vinho tem, é vinho que ganha com algum tempo de copo, decantar meia hora antes de servir será sempre uma boa opção. 92 pts

Mina Velha Selection 2010

Este produtor é uma das boas surpresas que tive nos últimos tempos no que a vinho diz respeito, os vinhos  nascem em Arruda dos Vinhos aqui bem perto de Lisboa, na Quinta de São Sebastião (Sociedade Agrícola de Arruda, Lda). Desconhecia por completo a sua existência, valeu uma simpática mensagem que mostrava interesse em que eu os provasse, aceitei curioso com o projecto e com os vinhos que me tinham sido então apresentados. O primeiro de todos é o Mina Velha Selection 2010, vinho de Touriga Nacional e Tinta Roriz em que o estágio foi parcial durante 6 meses em barrica de carvalho francês.
É vinho de aroma guloso, fresco, bom de se beber e cheirar, muita fruta gorda e gulosa, cheia de sabor, com madeira bem integrada a dar toques fumados, bem integrados e em grande harmonia no conjunto. Depois é macio, passagem prazenteira, de cantos arredondados apesar de um final ligeiramente seco que pede comida por perto, um vinho que dá muito boa conta de si. Preço a rondar os 5€. 89 pts
 
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