Copo de 3: março 2014

31 março 2014

Maias 2011


 Diz a tradição que na noite de 30 de Abril para 1 de Maio se coloquem nos ferrolhos das portas e janelas  ramos de giestas em flor, as Maias. Dizem os antigos que tal se faz para não se deixarem entrar os maus espíritos, o "Maio". Ora neste caso nada melhor para espantar as coisas más do que um belíssimo vinho de perfil clássico e muito convidativo, o Maias tinto 2011 da Quinta das Maias (Dão). Um vinho de que gosto e ao qual não se fica indiferente perante toda a sua jovialidade, tudo sem grandes alaridos de concentrações ou outros excessos, até no preço a rondar os 6€ é comedido. No tempo que nos dura no copo mostra com seriedade tudo aquilo que a região tem de bom, muita frescura, fruta sumarenta e muito limpa/perceptível, elegância com bonito travo vegetal a conferir alguma secura no final de boca, onde a ligação à mesa está aqui uma vez mais garantida. 90 pts

25 março 2014

Valdespino Don Gonzalo Oloroso 20 Anos VOS

A capacidade de nos deixar sem palavras e de causar enorme impacto face à qualidade apresentada continua a ser um forte aliado a vinhos como este que agora falo. Valdespino é nome grande no mundo de Jerez, daqueles que tem lugar cativo no Olimpo, cujos vinhos são verdadeiros tesouros da enologia. Este Don Gonzalo é proveniente de uma Solera fundada em 1842, com um estágio superior a 20 anos em botas em que o resultado final é um vinho muito sério e ao mesmo tempo fascinante. Conjunto complexo e muito rico, textura cremosa, untuoso, com notas de frutos secos torrados e salgados, charuto e madeira velha, caramelo, tudo muito elegante. Boca com palato a ficar completamente preenchido, frutos secos salgados, untuosidade com toque melado, poderoso e intenso mas ao mesmo tempo harmonioso e acolhedor. Torna-se irresistível e apetecível, no fim ficamos a rodopiar a copo e a cheirar mais do que uma vez o fantástico bouquet que vai desenvolvendo. Custou coisa de 27,75€ em loja online. 96 pts

20 março 2014

Ninfa Escolha Pinot Noir 2011

Quando provo certos vinhos dos quais vou ouvindo falar um pouco por todo o lado, por vezes fico sem entender muito bem o que dizer quando termino a prova do dito cujo. Primeiro porque me faz confusão como é possível que se elevem determinados vinhos para patamares que literalmente não têm arcaboiço para tal, é a meu ver mau para o vinho e para o produtor que fica crente numa realidade dominada pela ficção. O vinho de que falo é mais um dos Pinot Noir feito em Portugal e neste caso ou temos uma abordagem de Pinot Noir à moda de... ou como quase sempre acontece e é o caso, temos um tinto feito à base da dita casta. Se como tinto é um bom vinho, falta pureza e definição o que resulta do amontoado de aromas com a fruta presente com leve apontamento fresco, boa envolvente e que no geral dá uma prova satisfatória, como Pinot está longe de exemplos como o Campolargo ou mesmo o Quinta de Sant´Ana. 89 pts

19 março 2014

PL/LR Velho Mundo XI

Este vinho de mesa, o ano apenas se dá a entender pela numeração romana no rótulo, resulta de um projecto Paulo Laureano/Laura Regueiro onde se juntam uvas da Vidigueira (Alentejo) com uvas do Baixo Corgo (Douro). Neste caso específico foi utilizado Antão Vaz, Gouveio, Viosinho e Malvasia, onde apenas a uva do Alentejo estagiou em barrica. Se há o direito a criar, a fazer ou a inovar também há o direito a opinar sobre a obra apresentada e nesta perspectiva direi que o vinho me soube a pouco. Foi-me apresentado com entusiasmo mas não lhe achei muita graça, um vinho balofo onde tudo aparece pesado, com pouco movimento de cintura, numa amálgama demasiado redonda e pesada sem que venha uma acidez cortante e vincada a salvar o conjunto. Pouco esclarecimento ou definição apesar de dar uma prova boa mas não passa disso mesmo, com várias tapas que lhe foram sendo lançadas em jeito de salva vidas nenhuma o conseguiu trazer à tona... até mesmo um queijo de ovelha no forno lhe passou literalmente por cima tal a falta de frescura, algo que a temperatura a aumentar no copo transformaram este branco num verdadeiro naufrágio. 88 pts 

18 março 2014

Gouvyas Vinhas Velhas 2003

Gouvyas Vinhas Velhas é nome grande do Douro injustamente esquecido pelas lides enófilas dos tempos modernos, fruto do reboliço causado por paixonetas de ocasião. A Bago de Touriga é uma pequena empresa duriense liderada por Luís Soares Duarte e João Roseira, os vinhos que criam expressam o terroir único do Douro. Para este Vinhas Velhas foram seleccionadas parcelas de vinhedo com mais de 60 anos localizados no Cima Corgo (Vale de Mendiz e Soutelo do Douro). A produção final deste Vinhas Velhas é reduzida sendo esta a garrafa nº 2139 de um total de 3150 num vinho onde pontifica o carácter bem vincado da região, com raça e carácter, mas muita elegância. 

A evolução ao longo destes quase 11 anos foi e continuará a ser muito positiva, pois toda a sua estrutura indica que foi feito para durar... como perdura no final de boca e no palato. É complexo, intenso, cheio de nervo com a fruta escura (amora, cereja) a mastigar-se tão sumarenta e madura, azeitona, terroso, especiarias, esteva em flor na bonita austeridade que emana. O vinho dá voltas e voltas no copo, precisa de tempo e de paciência, a frescura que o rodeia faz que apeteça mais um e outro copo, a conversa vai longa, os sorrisos à mesa confirmam a sua grandiosidade. 94 pts
Fotografia & Receita

Redoma Reserva 2005

É sempre com enorme prazer que me reencontro com esta colheita 2005 do Redoma Reserva (Douro) da Niepoort, relembrando a primeira vez que o encontrei no copo, o vinho evoluiu com uma nobreza fantástica, digna dos mais altos elogios e com direito a estar na cúpula dos grandes brancos alguma vez feitos em terras de Portugal. Envolto numa fina capa dourada, perfumada por  cera de abelhas, muito melado, gordo e untuoso mas bem fresco numa acidez que perdura durante toda a prova. Cresce no copo, sem cambalear, harmonia e muito equilíbrio, fruta madura com bons apontamentos cristalizados e de geleia, erva de cheiro, num fundo amanteigado. A prova de boca replica o já encontrado no nariz, elegante com untuosidade, saboroso, longo e persistente final naquilo que se perfila como um grande branco aqui e em qualquer parte do mundo. 95 pts

17 março 2014

José de Sousa Mayor 2011

Continua Mayor o tinto José de Sousa (Reguengos de Monsaraz) de fina estirpe Alentejana e cuja fatiota se tem vindo a adaptar aos tempos modernos. Surge pois um tinto mais opulento, cheio de genica e mais pronto a beber, com mais gorduras e sem ser tão tenso ou rijo como me recordo dos tempos da juventude de um 1994 ou 1997. Continua no entanto a ser um belo tinto da planície, onde predomina a casta Grand Noir, num todo que conjuga fruta escura gulosa com folha de tabaco, café, especiarias (cravinho), terra molhada, tudo embrulhado numa barrica que não chateia. Ainda novo com tudo para se desenvolver, fruta bem presente na prova de boca, alguns taninos em fundo embora todo ele a mostrar elegância. O preço ronda os 19€ num vinho que mostra aptidão para guarda prolongada, sendo desde já companheiro de um bom Ensopado de Borrego. 92 pts

José de Sousa Mayor 1997

Casa Agrícola de José de Sousa Rosado Fernandes ganhou fama junto dos consumidores fruto dos seus fantásticos vinhos, o Tinto Velho de 1940 seria de tal forma especial que levou a José Maria da Fonseca a querer replicar o dito, aventura essa que começou em 1986. Seguindo estes passos surge então um José de Sousa Garrafeira, depois iria mudar para Mayor, que na colheita de 1994 me iria deixar rendido à sua qualidade e me iria aguçar a vontade de conhecer mais e melhor o mundo do vinho. Depois seria o 1997 que também gratas recordações invoca e que passados todos estes anos voltou a brilhar no meu copo. Naquele lote de Trincadeira, Aragonez e Grand Noir provenientes de vinhedo velho, com a peculiaridade de fermentarem em talhas de barro com posterior estágio em barrica, o vinho esse é todo ele um Clássico de letra grande, vinho de cartilha cujos aromas nos remetem de imediato para um grande vinho da planície Alentejana. Baila a fruta negra/vermelha com toques de morango, ameixa e bergamota, floral suave, delicada frescura a envolver todo o conjunto, folha de tabaco, bálsamo, especiarias. Um vinho cheio de saúde, numa bonita harmonia e delicada estrutura, sabor de cereja e bagas rechonchudas na boca, frescura num final prolongado. Resumindo, é um vinho em idade adulta, sério e cheio de requinte que fará as delícias dos apreciadores. 93 pts

Herdade do Perdigão 20 anos 2008

Será um dos produtores do Alentejo que sigo atentamente, colheita após colheita, Reserva após Reserva... este último em formato tinto curiosamente sempre foi aparecendo à mesa de alguns dos bons momentos da minha vida e este não fugiu à regra. Não sendo propriamente uma novidade, será para muitos, este Herdade do Perdigão (Monforte) edição comemorativa é proveniente da colheita 2008 e mostra uma vez mais que um grande vinho é e tem de ser feito para durar e aguentar as curvas do tempo. Relembro da mesma forma que a frescura não é nem nunca foi um artefacto exclusivo de uma qualquer tribo perdida algures nas montanhas.
Este Perdigão de fina estirpe é dominado pela Alicante Bouchet aliada à Trincadeira, a Touriga Nacional apenas se fica nos 5% do lote, tinto robusto e complexo a invocar as notas verdes e florais de uma Trincadeira adulta que complementa com um inicial químico costumeiro na Alicante. Rodopio no copo e alarga os ombros, cresce, ganha complexidade e torna-se envolvente, fruta sumarenta e rechonchuda bem limpa e sim está fresca, o vinho mostra-se fresco com uma muito bom aconchego da madeira. Na boca é conquistador, harmonioso e a tratar muito bem palato, cacau, cereja, leve apimentado, tudo seguro pela estrutura de um grande vinho. Tem um custo que rondará os 40€ mas onde o prazer está mais que assegurado e a longevidade também. 94 pts

15 março 2014

Villa Oliveira Touriga Nacional 2009

É um dos meninos bonitos da Casa da Passarella, produtor sediado no Dão e que tem conquistado durante os últimos tempos uma avalanche de consumidores com vinhos de grande qualidade e porque não dizer, com preços sensatos, racionais e muito apetecíveis. Um tinto criado a partir de vinhedo de idade adulta, por mãos que gostam e sabem o que fazem, que não se deixam levar no agrado fácil nem em aromas repetidos vezes sem conta numa infindável quantidade de vinhos à venda no mercado. Dará de momento uma prova cheia de sabor, boa intensidade, coeso com boa frescura de uma fruta compacta a mostrar capacidade de uma boa evolução em garrafa. Custa coisa de 24€ e é grande amigo de pratos de bom tempero indo de encontro à matriz da cozinha regional, como um Rancho à moda de Viseu ou Vitela à moda de Lafões. 93 pts


Os "testes" do Esporão

A Herdade do Esporão tem à disposição desde o ano passado na sua Loja da Herdade um conjunto de três vinhos a que chamaram de Testes, são experiências que viram a luz do dia e casos pontuais cheios de interesse. O lote é composto por três Testes em formato vinho branco. O 1 resulta de um Sauvignon Blanc proveniente da Quinta dos Murças (Douro), vinha do Assobio de uma parcela com 26 anos. O Lote 2 e 3 tem como origem a vinha dos Andorinhos (Herdade do Esporão) e permite ao enófilo comparar dois vinhos resultantes da mesma vinha, variando apenas o modo de produção: biológico vs integrada. Um exercício bastante interessante e que vale muito a pena. Os preços salvo erro rondam na loja os 7/8€ unidade.

07 março 2014

Vila dos Gamas Antão Vaz 2012

Assiste-se com entusiasmo ao ressurgir daquela que foi uma das grandes Cooperativas no que a vinho diz respeito no Alentejo, a Adega da Vidigueira. Nas últimas colheitas tem vindo a reformular toda a roupagem, incluindo um refinar no que aos vinhos diz respeito. As terras da Vidigueira são conhecidas pelos seus brancos, berço da famosa casta Antão Vaz e nos vinhos da Cooperativa as marcas Navegante e Vila dos Gamas são exemplares de altíssima rotação. O que agora me calha no copo é o Vila dos Gamas Antão Vaz 2012, vinho que por coisa de 2,60€ preenche com mérito os requisitos da mais básica petisqueira ao consumo diário e descomprometido. Vinho este onde a casta se mostra fresca e nada pesada, solta, estão lá os toques de ananás com a respectiva calda, numa estrutura que mostra vivacidade suficiente para a cozinha regional. Sirva-se fresco a acompanhar umas simples iscas com elas. 88 pts

Monte da Ravasqueira Sangiovese 2012

Inserido na gama de monovarietais do Monte da Ravasqueira (Arraiolos), surge o novo Sangiovese produzido em 2012 a partir da respectiva casta Italiana. Um produção de 3.460 garrafas com preço unitário a rondar os 12€, mostrando-se afável e pronto a beber, muito elegante, envolve com uma bonita e refinada complexidade que ganhou nos nove meses de estágio em barrica e outros tantos em garrafa.
Debita aromas gulosos, mostrando-se fresco e de corpo mediano mas desde já equilibrado com muita harmonia, ganha com tempo de copo, evolução muito boa e em crescendo, sempre fresco é certo mas com bom temperamento de taninos que no fundo mostram alguma secura. É vinho para boa companhia e boa mesa, um Assado de Borrego nesta Páscoa que se avizinha por exemplo. Com o nariz enfiado no copo lembra por uns breves instantes outras paragens, é o tal viaje para fora cá dentro, sai diferente do que por regra a planície Alentejana nos tem acostumado. 91 pts

06 março 2014

Vinha do Monte rosado 2013

É a estreia da tonalidade rosada na marca Vinha do Monte (Herdade do Peso) pertença da Sogrape por terras do Alentejo. Surge então na colheita de 2013 o primeiro rosado Vinha do Monte, lote de Touriga Nacional e Syrah, onde se destaca o carácter bem vincado da fruta madura e limpa, muito morango e muita amora,  toque vegetal fresco com especiaria de fundo, todo ele envolto num conjunto de corpo mediano e equilibrado. Boa estreia deste rosado nascido em terras da Vidigueira, companheiro ideal de esplanada e grelhador em altura de tempo mais quente. 89 pts

05 março 2014

Loios branco 2013

O Loios é o entrada de gama dos vinhos produzidos por João Portugal Ramos no Alentejo (Estremoz) e dispensa grandes apresentações ou floreados à sua volta, é um vinho fresco, jovem e com uma boa presença da fruta. Mais que isto era estar a repetir uma e outra vez o que já todos sabem, que estamos perante um verdadeiro vinho de alta rotação, vendido a menos de 3€ e de fácil agrado. Dito isto apenas a registar a mudança nesta colheita de 2013 para uma nova garrafa que não a da fotografia, que se apresenta mais leve embora menos bonita, mas com menos custos para o produtor e para o meio ambiente. É daqueles que não falha e felizmente se encontra um pouco por todo o lado. 88 pts

 
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