Copo de 3: Vinhos de uma vida... António Saramago

12 maio 2012

Vinhos de uma vida... António Saramago


Quero com este texto prestar a minha homenagem a um dos grandes nomes da Enologia de Portugal e do Mundo, o seu nome é António Saramago. Formado pelo Instituto Superior de Enologia de Bordéus, é produtor e enólogo consultor de vários outros projectos. A marca que deixa nos vinhos que elabora é precisa, metódica, atinge com mestria de relojoeiro Suiço a excelência em alguma das suas criações. Os vinhos que fez e que continua a fazer com aquele savoir-faire da escola de Bordéus, grande exemplo com os "seus" Tapada de Coelheiros, ou os encantos dos seus vinhos na Serra de Portalegre ou até mesmo os vinhos que criou na Adega Cooperativa da Granja. Se acham isto pouco então ainda se poderá acrescentar a mestria como domina os Moscateis, a arte que imprimiu em alguns dos grandes da casa José Maria da Fonseca e que nos dias de hoje cria com a sua própria marca. É muito mais que um enólogo, é um  Mestre, alguém que tem a capacidade de nos fazer sonhar, que nos cativa com a sua voz serena e pausada, que nos inunda com a sua sabedoria, com a paixão com que fala dos seus vinhos e dos vinhos que gosta.

Foi num destes dias que a seu convite me desloquei a sua casa, uma prova muito especial, privada e apenas para alguns sortudos em que para além de tudo se ficou a conhecer a obra de vida de um Senhor do Vinho.

Conversa amena, os vinhos iam desfilando e provando à medida que se ia ouvindo e questionando, são já 50 anos de dedicação em que se abordou a sua paixão pelo Moscatel, pelos vinhos da sua terra Palmela e pela sua passagem no Alentejo. A prova começou pelos vinhos de Palmela, os António Saramago Reserva, vinhos de excelente relação preço/qualidade onde brilha a casta Castelão de vinha velha que António Saramago defende e aprecia, temperada com alguns pingos de Alicante Bouschet... todas as colheitas a mostrarem vinhos com raça, bastante frescura e uma capacidade de nobre evolução de se lhe tirar o chapéu. São vinhos que precisam de tempo, não é vinho para enófilo apressado. Atualmente no mercado está o Reserva 2009 naturalmente o mais austero, fruta sólida, especiaria com madeira ainda que suave bem presente. Tudo muito jovem com grande alarido, denso, enrugado na boca, vegetal e por refinar e aprumar o seu conteúdo... é e vai ser grande. O 2007, vivaço, seco e estruturado, muito rico com frescura da fruta limpa e viva, mais domesticado que o 09 embora ainda com tempo nas pernas. Nos finalmente o 2005 e o 2003 que seria na altura o Escolha Palmela, o 2005 é um vinho em que se sente claramente o perfil Reserva mas muito pronto a beber, tudo mais calmo, cacau, pimenta, refinado e refrescante bálsamo vegetal e fruta serena com cereja, enquanto isto o 2003 está na sua plenitude, fino, fresco, com muita coisa boa a aparecer no nariz e na boca, saboroso e fresco... claramente todos eles a mostrar que a Castelão é uma casta a ter muito em conta. Por último nesta senda, o Escolha Alentejo 2001, vinho com uvas ali de Ferreira do Alentejo, apesar da prova contida com alguma frescura mostra que já teve melhores dias, perde muito ao lado dos outros colegas.


Ainda no Alentejo e rumando a Portalegre, o topo de gama de António Saramago de nome Dúvida. Este vinho surgiu na colheita 2005 e é lançado apenas quando se entende que deve ser lançado, aqui nesta prova esteve o 2008, um grande vinho do Alentejo ali da zona que o viu nascer, é vinho sem grande modernismo... remexe a memória com outras coisas que se beberam vai para largos anos ali daquela zona, ainda austero mas permitindo boa aproximação, o bouquet é magnético e tem a capacidade de atrair o mais desprevenido, flores, fruta madura, madeira, tudo muito lá... tudo muito fácil e ao mesmo tempo complexo. Um grande vinho do Alentejo a acompanhar muito de perto nos próximos tempos... dito isto deu-se um salto até à Herdade do Porto da Bouga onde se provou o Garrafeira 2003, este vinho mora nas prateleiras das grandes superfícies, pessoalmente foi o que menos me disse, algo impessoal e achei de fraca atitude, nada do que as primeiras colheitas que dali vi sair me tivessem mostrado ou acostumado, saudoso 2002. Depois foi entrar nos históricos, em que brilhou bem alto o Tapada Coelheiros 1996. Para último ficou a prova de dois vinhos Moscatel, o Reserva 2007 a mostrar-se um moscatel fresco, frutado e de consumo mais descontraído, por outro foi provado a estrela da companhia o JMS Superior 1993. Todos os vinhos vão ser alvo de prova mais detalhada, a ser colocada a devido tempo.
Deixo aqui o meu agradecimento e os parabéns pelos 50 anos de fantásticos vinhos que tão bons momentos  acompanharam e proporcionaram.

1 comentário:

Unknown disse...

Saudações,

gostava de ter a sua opinião sobre o JMS93 visto ter algumas garrafas por aqui e querer bebe-las com atençao.

Obrigado

 
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