Copo de 3: Vale da Capucha - Os vinhos de Pedro Marques

11 maio 2016

Vale da Capucha - Os vinhos de Pedro Marques


Os vinhos Vale da Capucha nascem a partir dos 13 hectares da Quinta de S. José em Carvalhal, Torres Vedras. É ali que o enólogo Pedro Marques cria desde 2009 os seus vinhos, todos eles com um cunho muito pessoal e uma visão que nos remete para o cultivo da vinha de forma orgânica (certificado em 2012). São os solos de elevado teor calcário e a proximidade ao mar, apenas a 8km, que ajudam a despontar a acidez natural dos vinhos. Todo o processo de vinificação é natural, sem adição de leveduras e outros "extras" que tantas vezes ajudam no processo. Na aposta que Pedro Marques fez em termos de castas, em conversa vai dizendo que algumas não se mostraram tão bem como ele esperaria e como tal é altura de mudança. Essa mesma mudança que o leva a querer apostar cada vez mais nas castas que ali sempre se deram, ou seja, jogar em casa com os da casa.

A evolução desde os seus primeiros vinhos até aos mais recentes lançamentos tem sido fantástica, com os brancos em grande destaque onde a pureza de aromas e a frescura quase eléctrica nos percorre todo o palato. A evolução a todos os níveis faz com que a cada colheita que passe, a cada ano de aprendizagem, Pedro Marques consiga educar cada vez melhor os seus vinhos, de modo a que consigam encarar a passagem do tempo sem medos nem pressas. Porque uma coisa é mais que certa para quem prova as últimas colheitas no mercado, ou mesmo as de 2015 ainda a repousar em inox, tempo de vida e de crescimento é algo que por ali não falta. 

No Vale da Capucha também se fazem tintos, mas são na realidade os brancos que atingem outra dimensão e patamares merecedores de real atenção. O tesouro escondido é composto pelos Colheita Tardia que nas mãos de Pedro Marques ganham uma dimensão fantástica no que à qualidade e também finesse diz respeito. A podridão nobre ataca e a conotação ao que de bem se faz lá por fora é imediata, também aqui o caminho parece estar traçado e revela-se sério e terrivelmente apetecível.

Fóssil branco 2013: Um belíssimo entrada de gama, ronda os 8€, onde se sente a fruta bem fresca de aromas citrinos e fruta de pomar, limpo e a mostrar uma ligeira nota da passagem do tempo. Pelo meio mistura-se o floral, tudo num perfil de mediana intensidade, por aqui não se procurem grandes perfumes, apenas precisão e definição aromática. O fundo tal como na boca é de travo salino/mineral com boa secura.

Vale da Capucha branco 2013: Algo fechado de aroma, agita-se o copo e nota-se que decantação só lhe faz bem, a fruta com ligeiro rebuçado de limão, flores, vegetal fresco, muito boa energia num conjunto mais coeso e amplo que o Fóssil. Ganha na amplitude e na presença de boca, com pederneira em fundo e notas bem vincadas de citrinos. O travo de giz que se faz notar é ponto assente no resto da gama.

Vale da Capucha Antão Vaz 2013: Deste já não se volta a fazer, uma vontade do enólogo em mostrar que a casta pode ser mais qualquer coisa para além do que se mostra pelo Alentejo. Objectivo conseguido, a marca do terroir da Capucha enche os bolsos deste Antão Vaz de pedras calcárias, os aromas da casta estão presentes embora envoltos numa malha eléctrica que lhe dá uma boa energia, mas nada mais que isto.

Vale da Capucha Alvarinho 2013: No seguimento da linha do Antão Vaz, consegue também ele mostrar a casta, boa secura com muita frescura a arrebitar os sentidos. Depois a casta mostra-se num plano mais sério e sisudo do que muitas vezes acontece na sua região natal. É daqueles vinhos que me parece meio perdido e sem saber muito bem quem é. Renovo tudo o que foi dito no rasto mineral e na secura final que percorre toda a gama.

Vale da Capucha Arinto 2013: É a meu ver a estrela maior da companhia no que a brancos diz respeito, toque fumado a lembrar pederneira, com citrinos num conjunto amplo e muito fresco. Ligeiro floral, todo o vinho pede tempo, implora para que seja guardado por mais um par de anos. A prova de boca revela isso mesmo, mas também um vinho com uma tremenda voracidade para a mesa. A frescura que mostra ter juntamente com os aromas e sabores bem definidos em conjunto com uma austeridade em pano de fundo, fazem dele o rei da mesa com os mais variados mariscos ou peixes grelhados.

Pynga Selection Syrah Viognier 2012: O único tinto provado que resulta de um lote de Syrah e Viognier, numa conjugação de aromas e sabores que no imediato o empurram para carnes grelhadas no carvão. O vinho é recheado de notas de fruta fresca e sumarenta, nem uma pynga de doçura porque a fruta resume-se a mirtilos e cerejas bem frescas e ácidas. No resto mostra-se carnudo e com ponta de especiaria, muito nervo com secura no final de boca, sirva-se com uns lombelos grelhados.

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